segunda-feira, 20 de março de 2017

terça-feira, 7 de março de 2017

Pensando em mudar de país? Você precisa saber...

Se você está lendo este texto porque está pensando em mudar de país, continue! Você precisa saber algumas coisas antes de partir. Nos últimos anos eu tenho estudado e pesquisado a relação da migração com a saúde e partilho um pouquinho aqui com você.

Desde os anos 1950, mas principalmente nos anos 1980 e 1990, muitos brasileiros e brasileiras deixaram o Brasil e foram viver em outros países. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil chegou a estimar em 4 milhões o número de brasileiros e brasileiras vivendo fora do Brasil. Com a crise econômica nos países ocidentais a partir de 2008, muitos brasileiros voltaram a morar no Brasil e, atualmente, o número de brasileiros "fora de casa" é de, mais ou menos, 3 milhões. Mas muitos outros brasileiros ainda continuam em busca de um outro país para chamar de “minha casa”.

Deixar o Brasil para ir viver num outro país é uma realidade que está presente na vida de muitos brasileiros e de suas famílias. Com o aumento das comunicações, com a redução dos custos dos transportes e um maior acesso à informação promovido também pela internet, vários brasileiros têm pensado em tentar a vida em outro país, por vários motivos.

Mas mudar de país vai exigir de cada um que se adapte. Sim, isso mesmo! Capacidade de se adaptar é muito importante! E a adaptação de uma pessoa num país diferente do seu vai depender de diversos aspectos individuais (e também coletivos) prévios tais como as características da personalidade, as condições sociais, a cultura, etc, existentes antes da migração. Os motivos que levam uma pessoa a mudar de país também poderão influenciar no processo de adaptação da pessoa em outro país.

Mas existem algumas coisas que toda pessoa que pensa um dia em emigrar deve saber antes de partir.

1 - Cada pessoa que emigra carrega consigo uma história pessoal e uma cultura próprias. O que você aprendeu na sua vida desde pequenininho pode não ser do mesmo jeito, nem funcionar do mesmo jeito no outro país para onde você pensa em se mudar. Isso é parte da CULTURA, que não é estática. Nós construímos e somos construídos pela nossa cultura. A cultura do outro não é melhor nem pior, é apenas diferente da sua. Se você pensa em sair do seu cantinho, seja paciente, tolerante, respeite e não queira mudar as regras da "casa" alheia. Você também quer ser respeitado, não é mesmo?

2 - Toda pessoa que emigra deixa o seu espaço conhecido e vai de encontro a um novo espaço. Isso inclui realmente TUDO na vida que você leva no país em que nasceu e na vida que levará no país no qual você pretende morar. Por “mais parecido” que possa ser o país de destino, sempre haverá diferenças culturais. Aprenda isso! Você terá que aprender muitas coisas novas, como funcionam e até mudar alguns hábitos se quiser se adaptar.

3 – Toda pessoa que se torna imigrante em outro país vai passar por um processo de adaptação que se chama aculturação. TODOS os imigrantes passam por isso. Aculturação é o nome dado ao processo em que você aprende uma nova cultura diferente da sua, daquela em que você nasceu e cresceu. É um processo bilateral, que ocorre lentamente e em ambas as culturas.

Mas… então isso pode causar algum problema? Depende…

E… de quê?

4 – Depende de “COMO” você vai vivenciar esse processo. De acordo com psicólogo americano John W. Berry, a aculturação acontece de quatro modos que são:

Marginalização: acontece quando o imigrante perde a sua identidade cultural e não tem o direito de participar no funcionamento da sociedade dominante por práticas discriminatórias. Sentimento de exclusão já é mau no seu próprio país, imagina se você estiver vivendo num país diferente daquele em que você nasceu, sem a sua família, sem os seus amigos e todos aqueles que te davam apoio quando você precisava...

Assimilação: o imigrante abandona a sua própria identidade cultural em favor da comunidade dominante ou seja, deixa de lado quem ele é para tentar se adaptar à nova realidade. Também não é bom...

Separação: o imigrante opta por não estabelecer relações com a comunidade dominante com o objetivo de preservar a sua identidade cultural. Por exemplo, sabe aquela pessoa que só fala bem e só se relaciona com pessoas do seu próprio país? Sabe aquele que nem tenta conhecer e conviver com as pessoas e coisas boas que o novo país de residência possam oferecer? Não é bom para nenhum dos lados. Seja aberto ao novo!

Integração: o indivíduo mantém parcialmente a sua identidade cultural e participa mais ou menos ativamente na nova sociedade. Neste tipo de aculturação a pessoa mantém alguns hábitos e costumes da sua cultura de origem e participa da nova cultura, introduzindo alguns hábitos e participando mais ou menos ativamente da sociedade de acolhimento. Este é o modelo mais favorável dos modos de aculturação.

As mudanças causam estresse. A mudança de país e a aculturação podem causar algum estresse. O nível de estresse varia de pessoa para pessoa e depende também de diversos fatores existentes antes e depois da mudança de país.

O psicológo John Berry também diz que a aculturação traz consequências psicológicas a longo prazo. Também tenho observado estas questões nas minhas pesquisas. As consequências psicológicas variam de pessoa para pessoa e dependem de vários fatores pessoais e sociais existentes antes da migração, tanto da sociedade de origem como da sociedade de acolhimento e também das características biológicas, psicológicas e sociais individuais que existiam antes do processo de aculturação e que surgem durante o mesmo.

E, claro, os cidadãos nacionais do novo país de residência e também as políticas relativamente aos imigrantes vão desempenhar um papel importante no processo de adaptação e aculturação dos imigrantes.

5 - Muitas pessoas, quando tem um problema, pensam que vão conseguir resolvê-lo mudando de país. Mas, gente, em todos os lugares desse nosso planeta Terra existem coisas boas ou ruins. Cada pessoa tem suas crenças, seus valores e expectativas e, dependendo do motivo que leva uma pessoa a mudar de país, ela só vai mudar o problema de lugar. E ainda vai ter que se adaptar ao desconhecido.

Portanto, se você pensa em emigrar, pense muito bem! Se você acha que está ruim morar onde mora porque “a grama do vizinho é sempre mais verde”, esqueça. Mudar de país é um processo complexo que afeta não só quem emigra mas também todos os que ficam. Antes de mudar de país, conheça o real motivo da sua vontade de mudança e ponha numa balança os prós e os contras. Leia e se informe bastante sobre as condições do país para onde pensa em se mudar. Se quer mesmo mudar de país, faça-o com consciência. E lembre-se, passear pelo país de férias é bem diferente de morar lá.

Uma migração internacional nem sempre é solução para alguns problemas das pessoas. A nossa vida diária envolve um conjunto de fatores pessoais e familiares, biológicos, psicológicos, sociais, culturais e também políticos. Tudo bem equilibrado fará com que uma pessoa viva bem num país ou em outro. Afinal, o que todo mundo quer é viver bem, não é mesmo?

Mas... o que é viver bem para você? Já pensou nisso?

PS. Este texto foi escrito por mim com o título "Cinco coisas que você DEVE saber antes de mudar de país" e publicado pela primeira vez no blog Brasileiras pelo Mundo. Está também disponível neste link.

Para citar este texto:
Reis, Lyria (2017). Pensa em mudar de país? Você precisa saber... in blogue Viver a vida em Portugal. Disponível em <http://viveravidaemportugal.blogspot.pt/2017/03/pensando-em-mudar-de-pais-voce-precisa.html>. Acesso em (data).