domingo, 26 de julho de 2015

O ensino superior em Portugal

Eu escrevi para o Brasileiras pelo Mundo sobre o Sistema de Ensino em Portugal. Escrevi também sobre o ensino superior no país. Partilho o post aqui com vocês!

Em Portugal existem várias opções de formação. Temos os Cursos de Especialização Tecnológica (CET) que são um tipo de formação acima do ensino secundário (ensino médio no Brasil) mas não é um curso superior. Esses cursos dão formação profissional e créditos para o prosseguimento de estudos de nível superior.

Os cursos superiores são ao nível de graduação/licenciatura que atualmente são chamados de cursos de 1º ciclo. Na sequência temos os mestrados integrados e os mestrados que são considerados cursos do 2º ciclo. Temos ainda os doutorados que por aqui são chamados de doutoramento, ou seja, 3º ciclo. Praticamente todos os cursos no ensino superior funcionam pelo sistema de créditos segundo as regras de Bolonha como acontece em vários países europeus.

A "Convenção de Bolonha" é um tratado europeu que funciona com um sistema de créditos. Nesse sentido, o estudante tem que cumprir um determinado número de créditos para poder concluir o curso e pode fazer parte do seu curso em um país e parte em outro. Em Portugal, as licenciaturas podem ter de 180 a 240 créditos ECTS European Credit Transfer and Accumulation System, ou seja, é um sistema europeu de acumulação e transferência de créditos. Os cursos em que não é possível ser feito em 3 ou 4 anos, muitas vezes são chamados de “Mestrado Integrado” e devem ter entre 300 a 360 créditos ou seja, 5 a 6 anos de estudo. Estão incluídos os cursos de medicina, medicina dentária, medicina veterinária, farmácia, arquitetura.

Para entrar na Universidade existem várias formas de acesso. O “normal” entre os estudantes portugueses que terminam o ensino secundário em Portugal é através do “Concurso Nacional” ou seja, os estudantes realizam os “Exames Nacionais” e é a média das notas das provas realizadas (somadas à nota final do ensino secundário) que darão acesso ao curso/universidade pretendido.

Mas também existem outras formas de acesso como os “regimes especiais” (por exemplo, para portugueses em missão diplomática, oficiais das forças armadas, entre outras), os “concursos especiais” para maiores de 23 anos, para quem já tem um curso superior ou diploma de especialização tecnológica (CET), e ainda há a possibilidade de reingresso, mudança e transferência de curso e, recentemente, os concursos especiais para estudantes internacionais.

O ano letivo europeu começa em setembro e as universidades, principalmente as particulares, começam a fazer publicidade dos seus cursos a partir de maio. Os prazos de inscrição variam tanto de curso para curso como de faculdade para faculdade mas, normalmente vão de junho a agosto. Os estudantes interessados devem sempre buscar a informação sobre datas e cursos diretamente na Universidade de escolha.

Portugal sempre recebeu brasileiros nas suas universidades. No tempo em que o Brasil ainda era colônia de Portugal e não havia universidade no Brasil, muitos filhos da elite brasileira vinham para Coimbra para fazer seus cursos superiores, principalmente na faculdade de Direito. Nos últimos anos muitos estudantes brasileiros têm vindo para Portugal para fazer diversos níveis de formação superior, muitos através dos programas de bolsas de financiamento público de diversos níveis do governo brasileiro.

Uma outra possibilidade para que estrangeiros, inclusive brasileiros, possam estudar em Portugal foi a aprovação do "estatuto do estudante internacional" através do Decreto-Lei 36/2014 de março, do Ministério da Educação e Ciência. O “estudante estrangeiro” é todo aquele que não tem a nacionalidade portuguesa e esse estudante poderá entrar na universidade através de concurso especial de acesso. Algumas Universidades portuguesas já se adiantaram e disponibilizaram informação exclusiva para estudantes brasileiros como a Universidade de Coimbra e a Universidade da Beira Interior que fica na cidade da Covilhã e, inclusive, aceitam a nota do ENEM.

Uma informação importante é que nas universidades públicas portuguesas todos os estudantes pagam mensalidades ou anuidades que são chamadas de propinas. Sim, é isso mesmo! Os cursos superiores nas universidades públicas não são gratuitos como no Brasil. A Universidade de Coimbra divulgou o valor da anuidade de 7 mil euros (+ ou – R$ 21.000,00), valor que um estudante internacional deve desembolsar para custear o seu curso e a Universidade da Beira Interior, 5 mil euros (+ ou – R$ 15.000,00).

Mas agora vou falar de um ponto que me parece muito importante quando uma pessoa pensa em fazer um curso superior ou uma pós-graduação em outro país. Qual o seu objetivo quando pensa em fazer um curso superior fora do Brasil? E porque escolher um país europeu ou Portugal para fazer um curso? Isso tudo conta para o seu futuro e pode evitar gastos e dores de cabeça desnecessários.

Antes disso, lembre-se! Cada país tem o seu sistema de ensino que está intrinsecamente ligado à história e cultura deste mesmo país. Claro que há cursos mais técnicos e é bom ter um outro ponto de vista. Mas, depois de terminado o curso, o diploma terá que ser reconhecido no seu país para ter validade. Em Portugal também já existem cursos que dão dupla titulação, ou seja, são válidos em Portugal e no Brasil devido aos acordos entre Universidades.

Mas ainda assim lembro aqui da dificuldade de reconhecimento das habilitações e das diversas disputas políticas e de classe na equivalência e reconhecimento dos dentistas brasileiros em Portugal no passado e mais recentemente, dos engenheiros e arquitetos portugueses no Brasil…

E para terminar, antes de começar um curso em outro país, pesquise bastante sobre os cursos, sobre as universidades, converse com pessoas que já estudaram fora e com quem já passou pela experiência. Pense nas possibilidades de reconhecimento do curso no seu país e no que você quer para o seu futuro.

Pensou em tudo? Acha que vale a pena? Só desejo boas escolhas e felicidades na caminhada!

PS. Este texto foi escrito e publicado pela primeira vez no blogue "Brasileiras pelo Mundo". A sua versão original está disponível aqui.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Como pedir um café em Portugal

Você sabe como pedir um café em Portugal? E um café com leite?

Para quem vive em Portugal é fácil mas, para quem chega de fora, nem sempre é fácil... 
Então, vamos lá contar para vocês como pedir um café em Portugal.

Para pedir um simples café expresso peça: "Um café, por favor".


Esse café será servido mais ou menos pela metade (ou um pouquinho mais) de uma chávena de café. Por aqui não se usa falar “xícara” e sim “chávena” que pode ser de café ou de chá. Portanto, vamos usar o jeito português de falar.

Pode ser também: "Uma bica, se faz favor".

Para pedir um café pequeno, ou seja, menos que meia chávena, peça um “café curto” ou uma “italiana”. Esse café será mais forte que o café normal porque é mais concentrado.

Para pedir uma chávena cheia peça “café cheio”. Assim, a chávena estará quase cheia ou cheia. Assim o café fica menos forte pois tem mais água.

Esse mesmo café pode ser servido numa chávena de chá. A este café damos o nome de “abatanado”.

Há também o “carioca” que é um café mais fraco. Algumas pessoas gostam de pedir um “carioca de limão”. Esse já não é café mas sim, um chá feito com uma casca de limão servido numa chávena de café.

Existe também o “abatanado pingado” que é o café normal, servido numa chávena de chá e com um pouquinho de leite. (é café com leite)

É bom não confundir com uma “meia de leite”. A meia de leite é leite com café servido numa chávena de chá (é leite com café). Agora, se quiser café com leite no copo é só pedir um “galão”.

Todos esses cafés também podem ser "descafeinados" ou seja, uma pessoa pode pedir "para mim um descafeinado, se faz favor". Um café sem cafeína.

E quando estiver na cidade do Porto, quando quiser uma bica, peça um "cimbalino". 

E todos esses podem ser servidos na "chávena escaldada" que é aquela passada pela água fervente da máquina de café expresso e assim a chávena também fica quente.

Algumas pessoas também pedem café com "um cheirinho". Esse é normalmente pedido depois das refeições. E o que é o cheirinho no café? É o café com um pouco de aguardente ou bagaço.

Pois é, em cada lugar, as pessoas tem o seu jeito de se comunicar. Para ser bem compreendido, nada melhor que aprender. :)

"Bora" beber um café? :)

domingo, 19 de julho de 2015

O Sistema Educativo em Portugal

Já escrevi sobre o sistema educativo em Portugal para o blog Brasileiras pelo Mundo e partilho o texto aqui também com algumas alterações.

Cada país tem o seu sistema educativo. Atualmente, a escolaridade obrigatória em Portugal vai até aos 18 anos. Normalmente um estudante termina o 12º ano com essa idade mas, além do ensino básico e secundário, poderá ter outros percursos educativos.

Como muitos de vocês sabem, Portugal e Brasil tiveram uma história partilhada até 1822 quando então ocorreu a independência do Brasil. Naquele tempo em que o Brasil era colônia de Portugal e ainda não haviam faculdades e universidades no país, muitos filhos da elite brasileira vinham para Portugal para fazer seus cursos superiores e muitos faziam o curso de Direito na Universidade de Coimbra.

Atualmente, embora as políticas educativas provavelmente não sejam as mesmas, o Brasil herdou muitas coisas da educação do tempo da colonização portuguesa como tem sido estudado por vários pesquisadores.

Neste texto vou explicar como é a escolaridade em Portugal comparativamente ao Brasil. Também falarei como é o sistema educativo português e como um brasileiro em qualquer idade pode ingressar no sistema educativo em Portugal. Ah! e o mesmo vale para um estudante português que queira ingressar no sistema educativo brasileiro. 

Isso pode ser importante para quem quer continuar a estudar em Portugal e também para quem tem filhos em idade escolar, que vem para o país e as crianças precisam entrar na escola.


Então vamos falar quais são os graus de ensino por aqui.

1 – Educação pré-escolar: também chamada de educação de infância tem como alvo as crianças dos 3 aos 5 anos, é de frequência facultativa e existem jardins-de-infância particulares e públicos. Os públicos são gratuitos. Embora sejam facultativos, as crianças acabam por ir para a escola muito antes dos 3 anos porque grande parte das mães trabalham fora e as crianças, não tendo com quem ficar, vão para a escola.

2 – Ensino Básico: O ensino básico é dividido em:

- 1º Ciclo, do primeiro ao quarto ano para as crianças dos 6 aos 10 anos;

- 2º Ciclo que inclui o 5º e 6º ano para as crianças dos 10 aos 12 anos;

- 3º Ciclo que vai do 7º ao 9º ano para as crianças de 12 a 15 anos.

O "ensino básico" português corresponde ao "ensino fundamental" no Brasil. As notas no ensino básico são de 1 a 5.

Uma das maiores diferenças entre os sistemas brasileiro e português começa aqui. Quando um adolescente termina o ensino básico e vai entrar no ensino secundário terá que optar por qual área de ensino quer seguir, que poderá ser científico-humanístico (os que servem para prosseguir estudos), tecnológico, artístico especializado ou profissionais. Na prática isso quer dizer que quando termina o ensino básico o estudante optará por quais disciplinas irá cursar no ensino secundário.

3 – Ensino Secundário: Inclui o 10º, 11º e 12º ano para os adolescentes entre os 15 e 18 anos. O ensino secundário corresponde ao ensino médio no Brasil, as notas vão de 0 a 20 valores, o estudante não terá todas as disciplinas como no Brasil e deverá ter frequência obrigatória em 5 disciplinas. As disciplinas escolhidas tem a ver com que curso superior que o estudante quer seguir. No final do ensino secundário o estudante fará o Exame Nacional e é a média das provas feitas que dará acesso ao ensino superior. Por exemplo, para entrar num curso de Medicina, a média mínima do último Exame Nacional foi de 18 valores e para entrar em Direito foi de 16. As médias variam de ano para ano e de universidade para universidade.

Algumas matérias são obrigatórias a todos como a língua portuguesa, língua estrangeira, filosofia e educação física. Mas, por exemplo, para um estudante que queira fazer Medicina como curso superior, durante o ensino secundário não terá que estudar matérias como geografia e história. Os que querem estudar algum curso superior em Artes não têm que estudar biologia, por exemplo.

E agora, para terminar, um brasileiro que venha para Portugal também poderá fazer o reconhecimento destes graus de ensino no país. Para isso, todo documento obtido no Brasil, como o histórico escolar e os certificados de conclusão de curso, para que sejam aceitos em Portugal devem ser reconhecidos em um Consulado Português no Brasil, antes de vir para Portugal. Informação adicional pode ser obtida na página do Ministério da Educação, neste link.

Após serem reconhecidos, os documentos devem ser entregues numa escola em Portugal que tratará do processo junto ao Ministério da Educação. Demora em torno de 30 dias.

Espero que essa informação ajude a todos que queiram ter os seus estudos reconhecidos em Portugal. Quem tem reconhecido o ensino médio pode tentar fazer um curso superior.

PS: O texto inicial, sem alterações, foi escrito por mim e publicado pela primeira vez no blog Brasileiras pelo Mundo e está também disponível aqui.

sábado, 4 de julho de 2015

Salinas do Samouco

O sal que usamos na alimentação em quantidades adequadas, é muito importante para a nossa saúde pois faz parte de mecanismos fisiológicos de funcionamento do nosso corpo.

O sal faz parte da história da humanidade. Nos tempos romanos este ingrediente até foi utilizado como "moeda" ou seja, os trabalhadores eram pagos com sal pelo seu trabalho.

O sal também foi (e ainda é) bastante utilizado como conservante alimentar. Basta ver a técnica de salga do bacalhau e de alguns alimentos salgados como a carne e o peixe pirarucu na amazônia.

Devido à importância deste elemento na vida das pessoas, as salinas também eram muito importantes para as comunidades.



Estátua na vila de Alcochete
O mais comum é a obtenção de sal a partir da água do mar. Mas também existem minas de sal longes do mar. Na Bolívia existe o Salar de Uyuni, uma grande planície a 3656 metros acima do nível do mar que, de tão branca e tão nivelada, até serve como referência para calibrar os altímetros de satélites de observação da Terra.

Em Portugal também existem algumas salinas em funcionamento. No município de Rio Maior existe a única exploração de sal gema no país. Há também salinas perto ou junto ao mar como, por exemplo, no município de Aveiro; no estuário do rio Mondego no município de Figueira da Foz; no estuário do rio Tejo e também no Algarve, nos municípios de Olhão, Tavira e de Castro Marim.

Hoje vou falar das salinas do estuário do rio Tejo ou do que era chamado de "região do Salgado de Lisboa". Era assim chamada a região produtora de sal, as salinas, existentes no concelho de Alcochete, margem sul do rio Tejo.

Em setembro de 2014 tivemos a oportunidade de conhecer um projeto bem interessante e pertinho de Lisboa. As Salinas do Samouco.


Imagem obtida a partir de mapa existente na recepção das salinas
Samouco é uma freguesia do concelho de Alcochete, na margem sul do rio Tejo que está localizada no local onde termina a ponte Vasco da Gama. Quando atravessamos a ponte, o Samouco fica ali, aquela terra que está por baixo da ponte.

Num sábado de manhã, após a marcação realizada por email, fomos fazer uma visita guiada. O passeio pelas salinas começou com uma apresentação inicial da história do local e posteriormente foi feita uma caminhada até o local da extração do sal.


As salinas são muito antigas em Portugal. A extração de sal nesta região do estuário do Tejo em Lisboa terá começado, provavelmente ainda no período árabe em Portugal que foi até 1249. 
Essa região foi importante produtora de sal. Nos anos 1930 foi o principal produtor da região de Lisboa produzindo cerca de um terço de toda a produção de sal do país. A partir dos anos 1970 a produção entrou em declínio devido aos altos custos de produção.

Uma salina é composta por um sistema de tanques e canais por onde a água vai passando e evaporando até que, no tanque final está tão salgada/concentrada que acumula o sal. Em dias muitos quentes forma-se uma "nata" de sal nos últimos tanques, os com maior concentração. Esta é a flor de sal. Infelizmente havia chovido e já não havia flor de sal para fazermos a rapação do sal, feita com um rodo (lembra a estátua ali em cima?)




Atualmente, as salinas do Samouco são parte de um projeto de conservação que surgiu com a construção da Ponte Vasco da Gama, nos finais dos anos 1990. A ponte foi inaugurada na época da realização da Expo98, a Exposição Mundial dos País que foi de maio a setembro de 1998.

No local há a extração do sal e também de flor de sal que ficam armazenadas para depois serem comercializadas.


Nas margens de alguns tanques é possível observar as salicórnias, uma planta que acumula o sal e que pode ser usada também na alimentação.



Além das salinas, este local do estuário do rio Tejo é muito importante do ponto de vista ambiental visto que é um espaço de alimentação e nidificação de diversas aves migratórias. Também funciona no local um espaço para estudo das aves que por ali passam. Uma das aves que pode ser avistada neste local são os flamingos que, às vezes, sobrevoam a ponte enquanto passamos por ali.




Atualmente as salinas do Samouco podem ser visitadas diariamente e também podem ser marcadas visitas guiadas, normalmente aos finais de semana, o que é sempre melhor pois fica-se sabendo um pouco mais do projeto, do trabalho e da história do lugar. Se o tempo ajudar até é possível fazer a rapação de sal. O projeto conta também com uma pequena loja onde é vendido o sal e a flor de sal.

Gostaram de conhecer este cantinho? Nós gostamos! :)